quinta-feira, 28 de maio de 2009

Só pra você (não) saber

Na real, na real? Escrevo isso para alguém que nem vai ler. Por que não pode, não sabe que esse espaço existe; e se soubesse, nas atuais circunstâncias, talvez não fosse ler. Talvez não fosse ler por que iria esquecer que um dia as coisas foram legais. Que conseguia compreender o quanto me fazia bem ter, sempre, aquela presença (por mais controverso que possa parecer o uso dessa palavra, nessa situação). Talvez não fosse ler por simples capricho, um orgulhozinho ferido; e é incrível como esse orgulho passa por cima de nobres "convenções psico-bio-socio-ideológicas" como amizade, carinho, lealdade e respeito. Provavelmente não iria ler por que estaria mais ocupado pensando em engenhosas formas de ignorar qualquer coisa que viesse de mim; e sem saber, iria alcançar esse objetivo. Brilhantemente... Idiota.

Então não iria saber porque eu escrevo. E não saberia que poderia alimentar aquele ego magoado; ainda que apenas soubesse que escrevi pensando em... (Tantas coisas). Só o fato de saber que "I'm spending my time..." a essa hora da noite (madrugada?) poderia causar um efeitozinho bem interessante. Mas, não saberia nem que escrevo e nem o que escrevo. Muito menos porquê! (Aff... Que idiota... Pensei num lead, agora... E isso me fez lembrar que preciso terminar uns textos da Jacqueline... Tá... Termino depois).

Mas... Escrevo para dizer que poucas pessoas souberam como usar tão bem as palavras comigo. Aliás, ninguém nunca soube. Nem eu sei! Escrevo para dizer que aquele livro realmente não é bom, você estava certo. Escrevo para dizer que sinto falta de contar que meus dias têm sido melhores do que eu havia imaginado, mas piores do que eu poderia ter feito com que fossem. Escrevo para dizer que tem chovido menos, mas as árvores ainda mantém o verde vivo dos dias em que a água castigou a cidade. Escrevo para contar que continuo com vontade de te levar a alguns lugares e de te apresentar a algumas pessoas, apesar de saber que você ficaria envergonhado. Escrevo para dizer que penso em você, principalmente quando escuto aquela musiquinha que achei que sempre faria parte das minhas lembranças ruins dentro de ônibus lotados, mas que eu descobri que você gosta, então passei a ouvir todos os dias. Escrevo, ainda, para dizer que essa falta vem diminuindo depois de tudo que você disse na última vez em que conversamos... E para te agradecer por ter dito tudo aquilo. Me magoou de um jeito todo especial: profunda e definitivamente. E se não fosse isso, talvez fosse ser bem difícil deixar explícitas algumas palavras que eu só havia conseguido deixar subentendidas mas que você nunca havia entendido...

Não me desculpe, adeus.

domingo, 24 de maio de 2009

Só umas observações

Lendo coisas pelo Orkut, a gente se depara com pessoas que não têm a menor consciência de algumas questões. Se fossem apenas posts com comentários sem graça ou inúteis, até que tudo bem (em parte); mas tem gente que se enrola toda só pela vontade de aparecer, de se mostrar "inteligente".

Em uma grande comunidade que propõe que as pessoas escrevam e divulguem seus textos, encontrei pelo menos 3 participantes utilizando textos de Martha Medeiros, Lya Luft e Rubem Braga como se fossem seus. Então eu fico me perguntando uma coisa, e não é "Porque as pessoas fazem isso?"; a resposta para essa pergunta todo mundo sabe qual é. Fico me perguntando se não passa pela cabeça desses "escritores" que alguma outra pessoa já possa ter lido aquele texto, já que os verdadeiros autores são famosos. Ou então se não imaginam que, com essa simples ferramentazinha chamada Google, alguém pode, com um pequeno trecho do texto, chegar a um link que leve ao real autor.

As pessoas não confiam em si o suficiente nem mesmo para escrever um texto para postar no Orkut?! Ou, pior ainda; utilizam-se de trabalhos alheios para impressionar desconhecidos da internet?! Essa coisa toda dos sites de relacionamento (não apenas Orkut, mas também Hi5, Twitter...) e dos "fakes", cria uma necessidade em algumas pessoas de ficar o tempo todo se impondo, provando a completos desconhecidos que são capazes de certas coisas. Uma doença, eu acho, a partir do momento em que começam a se envolver naquele "mundinho" como se fosse realidade. E roubar textos alheios para posar de escritor, com certeza é um indício de que esse envolvimento chegou a um nível preocupante.

Essa necessidade de autoafirmação é importante e normal, eu acho. Natural do ser humano querer mensurar suas capacidades, seus desempenhos... Seus limites. Mas, além de inúmeras outras coisas a se considerar com relação a essa "autoafirmação"; é importante (e tão óbvio que chega a ser quase idiota) que seja uma afirmação de... Si mesmo!

Valores meio invertidos, esses. Prioridades estranhas...
Tenho até medo do que ainda vem por aí.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Múltiplos Sentidos

Interessante como a palavra "sentido" tem vários sentidos ("significados" poderia ficar melhor nessa frase, mas aí perderia o sentido). Em um Aurélio antigo (edição de 1977), que eu achei aqui em casa, a definição da palavra "sentido" está assim:

"sentido - Adj. 1. Pesaroso, triste. 2. Magoado. 3. Em princípio de putrefação.
- Sm. 4. Cada uma das formas de perceber sensações, segundo os órgãos destas: visão, audição, olfato, gosto e tato. 5. Propósito. 6. Acepção. 7. Pensamento. 8. Direção, rumo."

Já em um Aurélio Ilustrado novo (2008), assim está:

"sentido [sen-ti-do] Adjetivo - 1. Magoado, ofendido: Ficou sentido com a brincadeira do amigo. Substantivo Masculino - 2. Cada uma das formas com que percebemos as sensações: O sentido da audição; o sentido do olfato; o sentido do paladar;o sentido do tato; o sentido da visão. 3. Significado de uma palavra ou de uma frase: Não sei o sentido desta palavra. 4. Coerência: O que João está dizendo não tem sentido. 5. Direção do tráfego numa avenida, rua, etc.: A prefeitura alterou novamente o sentido da minha rua."

Pra começar, eu achava que "Pesaroso, triste" e "Magoado" acabassem tendo o mesmo significado quando substituídas por "sentido", eu não consigo ver uma diferença clara. Depois, não sei onde é que "Em princípio de putrefação" poderia se utilizar de "sentido" para transmitir essa ideia de "coisa estragando" ("Esse pão está sentido", por exemplo... Que bizarro!). A questão das sensações está Ok. "Propósito" também; afinal, isso aqui que estou escrevendo tem um sentido (acreditem). Acepção é exatamente isso que a palavra "sentido" tem de monte: formas de se empregar um vocábulo. A do "pensamento" eu confesso que não entendi também... E é complexo demais pra se pensar agora, ainda mais porque a palavra "pensamento" tem tantas definições quanto "sentido", de acordo com o Aurélio de 77. Já quanto a "direção, rumo", está claro.

Além de "coerência", citado no segundo dicionário, eu acrescentaria mais um significado. "Sentido" como verbo; particípio de "sentir". Houaiss deve ter isso, ou mesmo um outro Aurélio. E a expressão "duplo-sentido. Penso que seja um pouco mais que um sinônimo pra ambiguidade, pois não só significa que determinado vocábulo pode ter duas significações (o que pode vir a comprometer a compreensão da mensagem), mas especialmente (pelo uso, convencionou-se e subentende-se) que um daqueles sentidos é ofensivo ou tem conotação sexual. E talvez ainda haja outras formas de se usar essa palavra, assim como há muitas formas de usar uma mesma outra palavra. E significados tão diferentes que podem vir a ser contrários, às vezes; como, por exemplo, a palavra "relevante". A palavra "induzir" tem pelo menos 3 significados particularmente interessantes. E a palavra "crônica"?

Para entender direito as relações entre os dois mais importantes significados dessa última palavra, procurei em um dicionário etimológico; e tanto a crônica como gênero literário (jornalístico) quanto como adjetivo, têm relação o prefixo crono ("do grego chrono, de chrónos - tempo) e nos transmitem uma relação com "tempo". Crônica, como adjetivo, é "relativo a 'tempo', que dura há muito". Há ainda, mais especificamente: "diz-se das doenças de longa duração por oposição às de manifestação aguda". Já como substantivo, tanto pode ser "narração histórica feita por ordem cronológica", quanto "seção ou coluna de jornal ou de revista que trata de assuntos da atualidade".

Penso, então, se esse texto (fruto da minha enorme paixão pela metalinguagem), pode ser uma crônica. Não está em um jornal nem em uma revista, mas há assunto mais atual que a própria linguagem? Principalmente quando se fala em língua portuguesa. Tanta complexidade, tanta variação, tantos sentidos. Múltiplos e poderosos sentidos. É saber usar.