sábado, 7 de abril de 2012

Dentes cerrados para sempre

Foi em 2009 aquilo tudo e só agora eu reparei. Eu já tinha o blog, mas claro que não postaria nada daquilo aqui, porque na época, pra ser bem sincera, eu sequer tinha noção da dimensão que aquilo tomaria na minha vida. Eu sou - e somos todos - assim. Fui marcada por pequenas decisões que no momento eu não sabia que iriam me arrebentar futuramente, para sempre. Mor(t)almente, na maioria das vezes. 

Foi naquele ano que eu fiz 18 anos, entrei nas Universidades e engatei aquilo que hoje eu chamo de a mais fracassada das tentativas de recuperar alguma coisa que nunca existiu. Ninguém nunca vai entender do que eu estou falando; mas é isso que é um blog, coisas que a gente escreve pra pessoas que nunca vão conseguir compreender completamente o que a gente está querendo dizer. 

Eu vivo em crise comigo mesma e choro sozinha, cerrando os dentes, pelo menos uma vez por mês. Mas, calma, é só um ritual de purificação natural, nada de outro mundo, nada de depressão ou pulsões suicidas. Longe disso. Quem não é triste ao menos um domingo a cada quatro? 

Mas 2009 foi o ano em que tudo isso assumiu essa forma real de tudo que havia sido imaginário até então. Ao mesmo tempo, foi quando eu menos senti alguma coisa. Eu realmente achava que aquilo iria ralo abaixo sempre que eu chegasse em casa. Ou antes disso, até. Mas nunca foi. De vez em quando eu encontro aquelas caras nos corredores descontraídos ou nas salas de reuniões formais. Eu finjo que não vejo e beijo e tchau. Vou fazendo de conta pra mim mesma que não sinto nada, agora sentindo mais do que nunca. 

Eu nunca fui daquelas que se guarda, se preserva, cala a boca, lamenta em silêncio e comemora tímida. Eu falo alto, grito de alegria e me escondo pra chorar porque, olha, essas coisas ninguém precisa ver. Eu devo estar fazendo um novo drama disso tudo, mas é difícil ignorar as sensações que ficaram. 

Embora tenha passado, algumas coisas mudaram pra sempre. Aquilo tudo mudou meu jeito de pensar, sentir e fazer algo que eu já havia feito antes, mas com muito menos coisa na cabeça que na alma. Quando a gente racionaliza certas coisas é mais complicado. Algumas coisas precisam ser viscerais a vida inteira. Banalizei. É isso. Banalizei e agora não consigo mais respeitar. 

Hoje eu me conheço melhor e conheço melhor as outras pessoas. E, olha que contraditório, por causa disso hoje eu sei que nunca deveria ter me metido nisso. Eu não lido bem com certas coisas que nos atacam na consciência. Ao mesmo tempo, poxa. Se eu acabei com alguém, foi comigo. E mais. Será que é consciência ou outra coisa que me martiriza? Acho que eu nunca vou saber. Mudei e mudei de vez, sem volta. Tudo aquilo ainda passa pela minha cabeça em momentos de grande decisão. E a cada nova escolha, a mudança é mais notável. E parece que volta a me mudar de um jeito diferente. E para sempre. Num sempre que caiba na minha vida, um sempre dos três segundos eternos. Uma pequena morte

Um comentário:

Vera disse...

Mas que honra ser amiga de uma menina tão doce, com tanto domínio das palavras.
Sempre que leio tuas matérias, ou até mesmo teus tweets pessoais, fico pensando na grande jornalista que você será. Porque uma grande mulher, você já é. E uma coisa está intimamente ligada à outra.
Você é ética, se interessa por mil e uma coisas (admiro muito isso!) e, Nossa Senhora, como escreve bem!
Tem outra qualidade que admiro bastante: não tem vergonha de se expor. Não de um jeito ruim, que cause constrangimento. Digo que você se mostra ao outro como realmente é, com suas forças e fraquezas.
E isso, além de tantas outros fatores, é o que torna você um ser humano admirável e amado por quem te conhece bem como eu tenho o privilégio de conhecer.

O mundo merece você, Maria.

Beijo.